DaUndo

Vai ser um ensaio curto, uma vez que não tenho por hábito perder muito tempo com telenovelas. Principalmente por estas razões:

De há algum tempo para cá, parece que é obrigatório que os títulos das telenovelas da TVI (e respectivas músicas do genérico) sejam tirados de famosas canções populares. Tudo bem, se o título e o enredo batessem a bota com a perdigota. Mas não.

Esta prática - que tem certamente influências de "O Nome da Rosa" de Umberto Eco - deve ser um plano inteligente de quem cria a telenovela. Não revelando ponta do enredo no título, aguça a curiosidade do público, que se sente tentado a visionar a telenovela até ao fim. Faz sentido, não é? Se o título de uma telenovela fosse "O Bom Morre no Fim", talvez as pessoas já não estivessem tão interessadas.

Por outro lado, se não se arranja uma canção famosa para a telenovela, sempre há a hipótese de contratar uma cantora para protagonista. Excelente ideia a da SIC, como é que ninguém se tinha lembrado disto antes? Escusa-se de gastar dinheiro em direitos de autor para se usar músicas alheias na telenovela. Sendo a Luciana simultaneamente uma cantora e uma actriz (amadora e amadora), está garantido o papel principal, mais a música do genérico e todas as músicas intermédias como bónus, e tudo isto pelo preço de um único ordenado!

E que músicas! Que melodias! Que lírica profunda!

"1,2,3... Vem DÂNÇAR" - o modo como é acentuda a primeira sílaba da palavra "dançar" permite a abertura à dúvida metódica: será que a Língua Portuguesa está a ser bem pronunciada?
"1,2,3... Bá-bá(???)" - a introdução da expressão incógnita, e mesmo no fim do genérico, é a pièce de la resistence
"Não tenho nada, mas tenho, tenho tudo" - o jogo paradoxal entre o "não ter nada" e o "ter tudo" causa um fortíssimo impacto, que faz de toda esta telenovela uma riquíssima experiência de reflexão filosófica.

Causam-me absoluto fascínio.
NR

P.S.: Aproveito para dizer que "Floribella" é um nome cocó.