sábado, agosto 12, 2006

 

O que os guias não dizem

Guias, roteiros, panfletos, muito falam eles de museus de arte. Falam nomeadamente da formidável colecção tal, da intemporal obra-prima x, da sublime escultura de beltrano. Mas não só. Também falam da quietude e placidez da localização, do jardim anexo. Falam da limpeza nos corredores e nos lavabos. Da segurança. Da arquitectura do espaço.

Ou seja, falam de tudo, menos do mais importante. Está bem que o principal fim de se abrir um museu é mostrar boas obras de arte ao público, mas o público não é nenhuma máquina de filmar. O público cansa-se. O público precisa de aliviar a pressão do seu próprio peso sobre as suas pernas. Resumindo, o público precisa de sentar o rabo.

E é por isso que é prioritariamente necessário colmatar esta gravíssima falha das publicações turísticas e informar o público dos melhores museus - em termos de assentos.

Por exemplo, o museu de arte da Gulbenkian. É uma admirável e espantosa colecção: começa com artefactos egípcios e acaba na arte do século XX, passando por moedas gregas, tapetes persas, porcelana chinesa, biombos japoneses, pintura renascentista flamenga, arte barroca e pintura do século XIX. Uma delícia para todos os amantes da História da Arte.

Por outro lado, o Museu de Arte Antiga - por muito estranho que possa parecer - dedica-se exclusivamente à arte antiga. Mas não é menos admirável por isso, pois contêm uma infinidade de obras de arte, anteriores ao século XVII, incluindo grandes pinturas de renome como os Painéis de São Vicente de Nuno Gonçalves, São Jerónimo de Dürer, As Tentações de Sto. Antão de Bosch, entre outras. Um verdadeiro seio de Abraão para os amantes de arte antiga, e não só.

Tudo muito bonito, mas e os sofás? Qual dos museus apresenta melhores condições de descanso? Neste caso, não restam dúvidas. Enquanto que a Gulbenkian dispõe de uns confortáveis, porém vulgares, maples almofadados, o Museu de Arte Antiga... Meus amigos, como explicar... Nunca se sentou nem sentiu nada assim. O prazer que se tem ao afundar o corpo na macia e fofa comodidade dos sofás deste museu ultrapassa em muito quaisquer outras volupiosas actividades que se possam exercer. Para pessoas que se deixam levar facilmente pelas tentações, até as desaconselho a exprimentarem estes sofás, pois é mais que certo que não conseguirão levantar-se.

Não me surpreenderia se o Museu de Arte Antiga de Lisboa fosse o melhor do mundo em termos de bem-estar. Mas como é evidente, ainda vai demorar até que alguém compreenda a relevância e dimensão deste assunto.
NR

Comentários:
Concordo plenamente, Portugal ainda tem muito a progredir em matéria de assentos em museus!
E digo mais: acho que deviam permitir ao público entrar com a alcofa do piquenique e o garrafão de tinto! Aposto que os museus teriam muito mais afluência!
Já agora, podiam tirar alguns daqueles quadros e colocar uns ecrãs plasma gigantes para a malta ver a bola!
Acho que se devia fazer um abaixo-assinado com estas reivindicações!
 
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